Desde os anos 80, quando houve uma grave acusação contra uma determinada marca de próteses de silicone fabricada nos Estados Unidos e utilizada no Brasil, tanto médicos quanto pacientes sabem (ou deveriam saber) que este artefato não se propõe a ser “permanente”.
Mesmo algumas indústrias tendo proposto uma “garantia vitalícia”, ao contrário que possa fazer pensar, garantem a substituição da prótese quando ela se mostrar necessária: ou seja, ela pode se mostrar necessária.
Vou repetir palavras conhecidas de quem tenha consultado conosco: “Hoje em dia, quem coloca próteses de mama, coloca sabendo que elas podem exigir uma substituição”, portanto, requerem um acompanhamento periódico, especialmente após oito ou dez anos de uso.
As informações acima são de domínio público, amplamente divulgadas e com mídia acessível a todas as classes sociais, especialmente nos últimos dez anos quando houve uma ”popularização” ou, poderíamos dizer, “massificação” da cirurgia de inclusão de próteses mamárias. Não podem ser alegadas como ignoradas; no entanto, o ser humano tem a capacidade de sublimar, “esquecer”, negar o que não lhe convém.
Com a correta indicação, todos concordamos que a cirurgia é altamente benéfica e gratificante, no entanto, continua sendo uma cirurgia (ato médico que implica em riscos) com inclusão de um artefato, ou seja um corpo estranho no organismo (o que acrescenta risco adicional). Nestas circunstâncias sempre se considera a relação risco/benefício, quase sempre amplamente favorável à inclusão das próteses de mama, especialmente com o desenvolvimento das tecnologias, medicamentos, equipamentos e as próprias próteses, hoje muito diferentes das implantadas há 15 ou 20 anos. Mesmo assim, restam riscos, entre os quais a presença de um corpo estranho no organismo.
Agora vamos falar de qualidade. Existe um limite a partir do qual a redução de custos compromete a segurança. Isto acontece em qualquer atividade, portanto, também é um conceito cujo conhecimento ninguém pode negar. Assim sendo, é a ganância, estabelecida em ao menos uma das etapas (e, pode ser, em todas) que potencializa o risco. Não é o único fator, mas ele necessita ser considerado.
Não desestimulamos as pacientes a se submeterem a esta cirurgia, quando bem indicada, ao contrário, reconhecemos os amplos benefícios da mesma, com a consciência de que não temos o controle de todas as suas implicações, no futuro imediato ou tardio. Não nos foi concedido este poder. Restringimo-nos ao conhecimento disponível hoje e não temos a capacidade de antever o futuro.
Neste terreno, acompanho o desenrolar do episódio ora em tela, e, enquanto escrevo hoje, me indiguina a movimentação dos órgãos regulamentadores da saúde pública. O artefato tinha o registro da ANVISA, portanto, todo cirurgião que utilizou esta prótese, o fez sob o abrigo oficial de quem tinha o dever de controlar a qualidade do produto. Foram céleres em anunciar que o SUS e os planos de saúde arcariam com o procedimento (discute-se quem vai pagar a nova prótese e quem o cirurgião que se disponha a isto), mas questiono:
1) Quem é (são) o(s) responsável(eis)?
2) Quem responde pelo inconveniente (dano moral e material) do cirurgião?
Nomes: A sociedade quer nomes e responsabilização.
O SUS é gratuito PARA QUEM USA, mas é sustentado pela sociedade, inclusive muito sustentados pelos médicos Cirurgiões Plásticos. Os planos de saúde são pagos por seus usuários, ou seja, a responsabilidade ESTÁ SENDO DILUIDA NA SOCIEDADE? TENDO O MÉDICO COMO TESTA-DE-FERRO?
Escrevo com a tranquilidade de quem não está advogando em causa própria, ou seja, nem eu, nem minhas pacientes fomos vitimados por este episódio, mas, e o futuro?